domingo

É proibido envelhecer

Um dia desses eu ouvi Aline comentar com seus colegas que nunca queria envelhecer. Ela dizia que quando se envelhece as pessoas esquecem a gente.
Aline tem seis anos de idade, mora com os pais e os avós maternos. Ela vive sempre cercada de carinho e atenção. Todas as manhãs o avô canta e dança para despertá-la e a avó conta história à noite para embalar os sonhos de Aline.
Certa vez, a neta ouve os avós conversando e percebe que eles estavam muito tristes. Sentiam-se sozinhos, mesmo tendo muita gente por perto. Aline ficou sem entender o porquê de tanta solidão e indagou:
- Vô, vó, mas aqui em casa tem tanta gente. Nunca ficamos sozinhos!
Com lágrimas nos olhos, o avô respondeu:
- Minha neta, a pior solidão é estar em meio a uma multidão e não ser notado.
A avó complementa:
- Ninguém quer ouvir conversa de velho. Nós só falamos besteiras!
Aline retruca:
- Mas eu escuto vocês, não é?
- Isso enquanto você é criança, depois que crescer vai nos ignorar também. – Diz o avô.
- Mas vô, quando a velhice chega deixamos de ser gente? Então é proibido envelhecer? – Aline questiona.
(...)
E quem é capaz de responder a essa pergunta?


Este é o meu querido avô, Luiz Pereira de Evangelista, falecido no dia 2 de novembro de 2007.

Texto publicado no livro:
“Contos Fantásticos Vol 12"
Editora Br Letras CBJE – Rio de Janeiro

Nenhum comentário: